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quinta-feira, 27 de maio de 2010

11 Dimensões do Tempo

11 Dimensões do Tempo.

O tempo é uma dimensão elástica que depende muito mais da percepção, do que de referencial absoluto. Apesar de 30 dias de férias passarem como um raio, cinco minutos sangrando representam uma eternidade, por isto dizem que o inferno é eterno, mas que não há mal que dure para sempre.

Porém, enquanto ele [o mal] estiver durando, é eterno enquanto dura. Assim, baseado nestes pressupostos que apontam a plasticidade temporal, elenco algumas noções que são utilizadas no dia a dia em situações que tem a ver com a propriedade de agigantamento/encolhimento do tempo em função do prazer/dor envolvido em cada uma delas. A última dimensão é surpreendente, pois para obtê-la dependemos do Apocalipse, ou de um emprego no Google.



1- Perder tempo.
As coisas mais chatas da vida são as que demandam mais tempo, tais como varrer, tomar banho, lavar roupas, escovar os dentes, lavar louça, cozinhar, pegar o transporte público, esperar, fila de banco, etc. Infelizmente, passamos a vida perdendo tempo.

2- No "meu tempo".
Pessoas saudosistas costumam dar uma conotação paradoxalmente estática à dimensão do tempo reduzindo-a ao “seu tempo”, ou seja, se referem a um passado distante onde elas foram felizes, como se o tempo atual não fosse delas e não vivessem, ou fossem zumbis.

3- Roubar tempo.
Os chatos são especializados em roubo de tempo, já que eles são os primeiros a dizer
“desculpe por estar roubando o seu tempo”. Caso a pessoa se deixar levar pelo andor, escorrem pelo ralo minutos preciosos nas presas de tais bestas humanas.

4- Desperdiçar tempo.
O auge da noção de desperdício de tempo é atingido quando a pessoa completa 25 anos, quando surge a pergunta que não cala: “E agora? Estou a meio caminho dos 30 e nada construí!”. Piora mais ainda a situação quando ela se compara a Mozart, Pelé, ou Wood Allen.

5- Fechar o tempo.
Significa luta, disputa, discussão, pancadaria e farta distribuição de sopapos. Toda a luta é eterna enquanto dura e dura mais ainda quando os machucados começam a doer.

6- Dar um tempo.
Ninguém dá tempo de graça. Quando um dos parceiros aparece pedindo para “dar um tempo”, é sinal de que a relação amorosa foi para o saco. A sabedoria popular sabe que nada é mais inverídico na petição do que a promessa da “volta” depois do tempo solicitado, ainda mais porque ninguém se compromete com prazos nessas situações embaraçosas.

7- Bom/Mau tempo.
A meteorologia reduz a dimensão do tempo à questão climática. Por incrível que pareça, essa concepção não trabalha com a noção de tempo transcorrido, já que o transforma em qualificativo.

8- Fim dos tempos.
O conceito de fim dos tempos é monopolizado pelas religiões e doutrinas apocalípticas. Dentre as muitas teorias do fim do mundo constam o Juízo Final, impacto de um gigantesco asteroide contra o planeta terra, guerra atômica, aquecimento global, cataclismos, etc.

9- Passar tempo.
O lazer foi o método inventado para passar o tempo de maneira lúdica e fazer menos filhos. Para atender tais necessidades urgentes, surgiu a indústria do entretenimento que oferece tudo o que os olhos desejam e o que bolso não pode pagar.

10- Ter tempo livre.
Provavelmente a dimensão de tempo mais difícil de se obter atualmente seja possuí-lo. A vasta maioria das pessoas está matando cachorro a grito e “não tem tempo para nada”. A maior queixa da sociedade pós-industrial é contra a falta de tempo e em nada resolve o avanço tecnológico dos gadgets que se tornaram extremamente portáveis para permitir que os sujeitos nunca se desconectem deles onde estiverem.

Aparentemente a única solução viável para a crônica falta de tempo dos nossos tempos, exceto o Apocalipse do fim dos tempos, é trabalhar no Google. Veja como sobra tempo aos geniais e super-atarefados rapazes para tirar a sonequinha pós almoço, sonho dourado de todos nós que somos condenados a labutar de sol a sol.

11- Ganhar Tempo.
Já que é impossível ter tempo livre num sistema caracterizado pela correria e competitividade extremas, é lícito ganhar tempo no tipo de interregno mais recorrente no meio urbano. Assim, muitas pessoas aproveitam o imenso tempo gasto nos meios de transporte para recarregar as baterias. Os Japoneses chamam isto de Inemuri, ou seja, eles até compram kits sustentadores da cabeça para poder dormir em pé.

Oportunamente este ciclo de dimensões temporais começa com Perder e termina com Ganhar, que são os dois lados da mesma moeda da nossa impotência sob as artimanhas do Deus Chronos.

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